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  • Foto do escritorJadna Alana

Como criar bons diálogos

O ofício da escrita requer de nós a sagacidade de conseguir se colocar e se ausentar do texto nos momentos necessários, afinal, mesmo que a obra saia de nós, precisamos emprestar nossa voz ao narrador e aos personagens; e neste ponto muitos de nós encontra a dificuldade. Uma coisa é compor um narrador onisciente ou decidir vestir a primeira pessoa e esboçar um livro com um narrador-personagem, visto que estamos falando de um único elemento narrativo, outra coisa é compreender que para além de narradores, nós precisamos construir personagens diferentes, ocupando o enredo com suas variadas vozes. E com relação a isso, amigo escritor, tenho autonomia para dizer que muitos não possuem as rédeas da situação.



Minha obsessão pela criação de diálogos nasceu cedo, nos primeiros anos de carreira. Havia em mim a necessidade de compreender como aperfeiçoar esse ponto quando notava uma grande dificuldade: os personagens falavam da mesma maneira, como uma extensão do narrador, e para piorar não existia naquelas falas nenhuma informação que de fato fosse acrescentar alguma coisa para a obra. Rascunhar um “bom dia, como vai?”, “estou bem e você?” é simples, no entanto utilizar desse meio para construir personagens, agregar metáforas e informações importantes para o enredo me parece um feito de poucos.


Aqui entra, então, a minha jornada não só como escritora, mas também como editora de textos. Durante três anos como leitora crítica e preparadora textual encontrei obras boas e outras carentes de muito aperfeiçoamento. Por isso tenho sido certeira na minha ênfase de que o assunto “diálogo” precisa ser trabalhado com mais eficácia por muitos. Três anos de trabalho editorial e poucos conseguiram me surpreender com a sagacidade na construção destes. Como ocorreu comigo também, na maioria das vezes diálogos longos demais, explicativos demais, óbvios demais, sem acrescentar nada para a narrativa ou construção de personagens, cheios de frases de efeito preenchidas de lugares-comuns, sem ritmo ou qualquer marca de coloquialidade. Me diga, qual a coerência de uma obra jovem, ambientada em nossos tempos, em que todos os personagens falam “estou indo para uma festa” em vez de “tô indo pra uma festa?”. São pequenas coisas, estas que passam despercebidas por nós, que fazem toda a diferença na composição de bons diálogos.


1. O diálogo precisa ser relevante


Na carência de não compreender como construir diálogos, é comum que o escritor se coloque muito em obviedades, caia no erro das repetições e que entregue a sua intenção de “mão beijada”, sem conseguir proporcionar que o leitor construa seu entendimento sozinho.


O diálogo precisa dizer algo que funcione com a narrativa, que dê indícios da intenção do autor em sua construção, e por isso podemos começar tirando tudo aquilo que não for necessário.


2. Fala curta


É comum perceber que alguns autores constroem diálogos longos, personagens que passam parágrafos em monólogos ou explicações. A não ser que exista uma razão nessa construção, como é comum em “Anne de Green Gables”, no qual temos uma protagonista tagarela e falante, que expressa falas muito longas, que chegam a ocupar mais de duas páginas da obra, eu não vejo razão para esses alongamentos.


O uso de falas curtas contribui para o que eu gosto de chamar de “ritmo”, que é o fluxo do vai e vem dos personagens, que “imitam” o diálogo realista. No cotidiano, nós não costumamos monopolizar a fala, mas a dividimos com o outro através dessa dança verbal.


3. Diálogo significa personalidade


Ser um bom construtor de diálogos significa personalidade, tom próprio. Escolher um estilo para si, mas principalmente para a obra, é uma característica importante para a sua voz como autor. Eu, por exemplo, passei a fazer usos da regionalidade, falas com ritmo, gírias locais, expressão que imprime o homem do campo, de vivência interiorana, para o protagonismo da obra. O nosso sotaque, que por muito tempo foi e ainda é visto como “errado” se apossa das páginas das minhas obras como um grito de resistência.


Já na obra “A filha primitiva”, de Vanessa Passos, ela escolhe trabalhar personagens sem nome, além de não marcar as falas através do uso do travessão. As vozes femininas se diluem em várias e nenhuma. Esse estilo buscado pela autora tem essa característica própria, que combina não somente com o livro, mas também com as ideologias que Vanessa carrega, visto que escreve sobre o feminino e a vivência dessas mulheres.


Essas são algumas das dicas que podem fazer seu livro ter diálogos bem melhores.

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