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Foto do escritorBianca Gulim

O perigo da escrita intuitiva

Um dos erros mais comuns que vejo entre os escritores no começo de carreira são originais escritos de forma unicamente intuitiva. Ou seja, o escritor só vai jogando no papel tudo que lhe ocorre, sem estratégia, sem pensar muito nos seus objetivos com aquela obra, sem estudar o público-alvo, as técnicas literárias. E o resultado disso na massacrante maioria das vezes é um original sem qualidade.



Ah, Bianca, mas eu gosto desse processo livre. Eu nem consigo planejar um livro. As cenas vão vindo e preciso ir jogando no papel do jeito que vieram mesmo.


Olha, está tudo bem começar o processo de escrita de forma intuitiva. Você pode rascunhar mil cenas de forma intuitiva antes de qualquer outra coisa. Mas em algum momento você vai ter que parar para analisar essas cenas e tomar decisões depois de refletir muito.


Narrar em primeira ou terceira pessoa? Narrar no presente ou no passado? Um, dois ou mais narradores? Ritmo lento, acelerado ou meio-termo? Fugirá ou explorará clichês? Todos os personagens serão redondos, ou haverá planos também? Linguagem acessível ou rebuscada? Estrutura cronológica, ou com flashbacks, ou epistolar…? Vai trazer referências? Vai explorar uma, duas ou mais camadas da narrativa? Quais seus objetivos com a narrativa, com a linguagem, com o ritmo, com os personagens… com a obra, e quais técnicas vão o ajudar a alcançá-los?


Essas são só algumas das perguntas inevitáveis que ocorrem ao escritor ao produzir um original de qualidade. 


Se você conseguir as respostas antes de começar a rascunhar, vai economizar bastante tempo. Mas, se não conseguir, se é apenas durante a escrita que as ideias surgem para você, não há problema, mas, após rascunhar, você vai ter que parar e refletir sobre tudo o que você criou, para depois colocar suas decisões em prática.


O que não pode acontecer é você escrever várias cenas de forma intuitiva, e fim, está pronto seu original. Não. O que está pronto é seu rascunho, que, após muitas edições de sua parte, se tornará um original.


O intuitivo é, sim, importante, mas é apenas uma pequena parcela do trabalho do escritor. Pense, reflita, planeje, trace seus objetivos com a obra e busque técnicas para ajudá-lo a alcançá-los; teste, experimente, e se não der certo tente de outro jeito, e de novo, de novo. Não tenha pressa. Se puder, invista mais tempo planejando e traçando estratégias, seja antes ou depois do rascunho, do que executando. 


Uma ideia não tão boa bem executada tem potencial, mas uma ótima ideia mal executada não tem chance nenhuma.


E você, ainda escreve apenas de maneira intuitiva?


Até a próxima!


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